“E farás comigo bondade e verdade...” (Bereshit 47:29)
“E farás comigo bondade e
verdade...”. Assim lhe roga a seu
filho Yosef quando lhe faz jurar que o enterrá com seus pais na terra de Canaã,
ao que comentaram nossos Sábios: não, bondade e verdade senão bondade
verdadeira, pois não há bondade sincera senão a que se faz com os mortos, pois
eles não poderão devolver nossa bondade.
Com estas duras palavras se
dirige Yaacov a seu filho; mas acaso isso não o faria qualquer filho? Mas quando se trata de Yosef que era o governador quase omnipotente
de toda a terra.
Yaacov quis-nos ensinar um
grande princípio das relações humanas, não somente os interesses criados que
são um dos princípios que movem a toda a pessoa, senão que também determinam as
relações humanas como nos disse Pirkei Avot em nome de Yoshua Ben Perahyá:
“Compra para ti um amigo”. Não foi
em vão que usou esta expressão “compra para ti”, já que os amigos verdadeiros
como não vêm “grátis”, como disse o profeta: “Camaim, Panim o Panim, cach leb
haadam leadam”, “Como na água o rosto vê o próprio rosto, assim deve ser o
coração da pessoa com o seu companheiro.”
E chamou Yaacov a seus filhos e
disse “Reúnam-se e lhes comentarei o que lhes sucederá nos dias futuros. Reuven
meu primogénito...”, assim começou Yaacov a criticar e a qualificar cada um dos
seus filhos. As condições humanas
de cada um são as margens do seu comportamento, o conhecimento dos mesmos serão
sempre de muita ajuda para saber guiar-nos.
O temperamento agressivo de
Reuven, ou o instinto de vingança de Shimon e Levi ou o aventureiro Zebulun ou
a paciência de Issachar, o conceito de justiça de Dan, assim como cada um dos
nossos patriarcas foram indicados por Yacov para que cada um dos seus filhos ficasse
consciente das suas condições , possa desenvolver ao máximo a sua capacidade e
evitar tanto quanto possível os seus defeitos.
Entre os defeitos da nossa
sociedade, encontra-se um dos pilares que dirigem o nosso comportamento: a
competência em todos os seus aspectos, desde a pontuação num colégio até à
competência desportiva e culminando em todos os aspectos da nossa vida. É por acaso correcta a comparação de
dois corredores de diferentes condições físicas, de dois alunos de diferentes
capacidades intelectuais, ou de dois simples irmãos que nasceram com diferentes
temperamentos? Que injustiça é a
pontuação na escola que toma em conta o conhecimento e não o esforço, que
frustração é para um menino que, depois de várias horas de estudo e preparação,
não consegue comparar-se ao seu companheiro que em alguns minutos estava pronto
para o exame.
Comentaram acerca de um dos
grandes rabinos da geração anterior que, numa visita à comunidade donde deveria
começar a exercer como dirigente, lhe perguntaram pela sua família, quantos
filhos tinha ao que ele respondeu: um.
A directiva, consciente de que tinha uma família numerosa não chegou a
entender a resposta, ao que lhe perguntaram porquê havia assim respondido: um Moshé
e uma Rivca, um Shlomo e uma Esther..., cada um é único por si só e, ademais, o
rabino criticou os seus membros: Que defeito temos nós os pais quando
comparamos os irmãos!, expressões como : olha para o teu irmão ou aprende de...
que tão usuais se encontram em nosso vocabulário.
Yaacov não somente conhecia cada
um dos seus filhos, suas qualidades e seus defeitos, senão que soube
relacionar-se com eles de acordo a eles mesmos. Perguntaram os nossos Sábios:
Por que esperou Yaacov até próximo da sua morte para fazer aos seus filhos uma
crítica construtiva? Ao que responderam os nossos Sábios como moral: uma pessoa
não deve criticar os seus filhos até próximo da sua morte para que não se
apartem dele e para que não tenha que criticar e voltar a criticar ,pois
perderá o valor da crítica. O rei Shlomo enquanto teve o seu professor com ele,
não incorreu no pecado, morreu seu professor e decidiu conhecer as vanidades da
vida para saber o seu valor e apenas os prazeres encontrou.
Vanidade de vanidades, disse
Cohelet, tudo é vanidade.