A Torá desde Jerusalém
Parashá Vayishlach
Comentário
sobre a Parashá
“E Yaacov
enviou passageiros...” (Bereshit 32:4)
O encontro entre Esav e Yaacov foi a fonte
dos nossos Sábios nos conselhos no que respeita às relações humanas, tal como
explica Rashi: Yaacov preparou-se com os três níveis que a pessoa deve
enfrentar perante todo o tipo de problemas. Preparou ofertas para atrair o sentimento do contrário e
evitar o confronto; com a Tefilá rogou ao Todopoderoso que mudasse a possível
ira de Esav para ele e por último dispôs-se para um encontro agressivo, em caso
de que o seu irmão decidiu atacá-lo e assim estamos obrigados a defender-nos:
“quem queira atacar-te, leventa-te e ataca-o”.
Presentes: o ser humano é um ser
social pelo que a sua vida deve estar sempre rodeada por outras pessoas e
consciente ou não consciente manterá uma influência interactiva com eles, como
diz o refrão: “Diz-me com quem andas e te direi quem és”. O agradecimento é um instinto nato como
disse o Rei Shelomo nos Provérbios (27:19): “Como na água o rosto reflecte o
rosto, assim o coração responde ao homem”. O “simpático” instinto é tão forte na pessoa, e dele já
algum momento fomos testemunhas, do riso durante a conversa entre pessoas que
riem, ainda que pudesse ser por si e a pessoa soubesse o conteúdo dessa conversa
não teria respondido do mesmo modo ou com a mesma disposição, com alegria ou
seriedade, quando alguém participa em alegrias ou pelo contrário em desgraças,
ainda que os actos sejam totalmente alheios à pessoa.
Disse-nos o Pirkei Avot:”Yoshua
Ben Perahyá disse: Arranja um Rab, adquire um amigo e julga toda a pessoa por
bem”. “Adquire uma amigo”, assim
nos aconselha a Mishná, pois os “amigotes”, esses que se conseguem sem muito
esforço e em qualquer sítio, não têm muito benefício para a pessoa no melhor
dos casos. É interessante que, no
que respeita ao Rab. disse-nos Rabí Yeshúa: “Faz” e não “adquire” como no caso
do companheiro e a razão é muito simples: a função do Rab. como professor,
dirigente ou conselheiro deverá ser sempre desinteressada, como disse Moshé
antes de despedir-se do povo:”acaso usei alguma vez o animal de alguém?”. Advertiu-nos a Torá: “Não recebas
suborno, pois o suborno cegará os olhos do justo e alterará as palavras do
Sábio”. A Torá não fala nem de
perversos nem de malvados, senão pelo contrário, de justos e de sábios mas o
interesse faz parte da natureza. O
suborno que a Torá nos menciona não é apenas com interesse de enganar senão,
como nos relata o Talmud, sobre aquele camponês Aris (contratado à percentagem)
que deveria comparecer perante Raban Gamliel por uma desavença com um vizinho,
que pensou se tinha que ir até à cidade pelo pleito ,podia aproveitar e
adiantar o aluguer que ele devia ao Rab.
Depois do pagamento do aluguer o Rab. ficou a saber que o seu inquilino
tinha que comparecer diante dele, pela disputa com o vizinho, ao que alegou o
Rab. que não podia julgar este caso pois considerar-se-ia como um suborno o
adiantamento do pagamento do aluguer que lhe tinha entregue o seu inquilino. Raban Gamliel considerou o adiantamento
do pagamento como suborno, apesar de que o camponês fê-lo para evitar o
trabalho de incomodar e ter de voltar a viajar para a cidade na data do
pagamento. Que suborno tão subtil! Não podemos esquecer que depois de qualquer favor, um bom
acto ou ajuda a ajuda humana “devemo-lo” pelo que o nosso pensamento não estará
livre de inclinações.
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