“Shabat Hagadol”
No contexto da parashá desta semana, Parashá Tzav, na qual a Torá nos
relata as obrigações dos sacrifícios, com tantos detalhes que chegamos a
perguntar que relevância poderiam ter estes sacrifícios nesta era. Numa época em que os países
“desenvolvidos” orgulham-se das suas sociedades protectoras de animais, na luta
pelas espécies em perigo de exterminação bem como por outros interesses.
Mas interessante é, quando se trata do direito de um indefeso humano como o
é o feto de uma mulher grávida; desde logo os direitos dos débeis se eliminam
da consciência. Será que não
lutamos pelos direitos alheios senão que queremos tranquilizar a nossa
consciência através da protecção daquele que não nos incumbe?
Quando ouvimos que existem países onde a Shechitá foi proibida por
crueldade, isso demonstra-nos o equívoco acerca dos conceitos, no qual nos
encontramos. Poderíamos pensar que
a Torá permite sofrer desnessáriamente, quando o Talmud nos relata que, Rabí
Yehudá Hanasí recompilador da Mishná que se encontrava na sua liská do
Sanhedrín, no Santuário, veio escapar um animal que estava a ser levado para o
seu sacrifício e esconder-se debaixo da sua cadeira e Rabí Yehudá ao vê-lo
dirigiu-se para o animal e criticou-o porque fugia do sacrifício para para o
qual tinha sido eleito. Por isso
ele foi criticado e castigado a doze anos de doença, por não entender que o
pobre animal fugia da morte.
A Torá critica o não compreender e falar mal a um animal e não critica
fazendo-o sofrer inecessariamente.
A Torá possui escalas de valores e põe o valor da vida humana acima do
valor da vida animal, pelo que nos permitiu sacrificar a vida de um animal para
a nossa comida, para os nossos medicamentos e até mesmo para realizar estudos médicos.
Na Torá não existem mistérios nem tabús, é posssível entender tudo e tudo
deve ser entendido, pois a falta de conhecimento afasta a pessoa do seu bom
cumprimento. O preceito da vaca
vermelha realça mais do que nenhuma obrigação, a dificuldade de entendimento em
tudo o que se encontra relacionado com a pureza espiritual com o próprio
espírito. Tal como o material tem
as suas leis físicas que o definem, onde apenas conhecimentos muito profundos
chegam a entender com muitas limitações o comportamento das ditas leis e as
forças que a dirigem, já que é mais o que é desconhecido que o conhecido, muito
mais afastado se encontram de nós os conhecimentos das leis que regem o mundo
espiritual.
Apenas mentes atrofiadas tentariam ensinar engenharia a um menino, assim
como a Halachá critica quem tenta entender as leis da pureza espiritual e o seu
comportamento, sem antecipadamente entender as leis que regem a vida quotidiana e material do humano.
Em dias tão indecisos como os actuais, que o mundo atravessa, devemos
apoiar-nos na segurança que a Torá dá a quem a estuda e a alegria que obriga a
Halachá, tal como nos disseram os nossos Sábios: “É uma grande obrigação estar
sempre alegre” e “Não há alegria como o esclarecimento da dúvida”.
Este mês de Nissan, mês no qual se começa um novo ano como povo, deve ser
um mês de mudanças, no qual o Chametz, símbolo de orgulho, se converte em
Matzá, símbolo da austeridade. A
Primavera, símbolo do florescimento da tristeza do Inverno, conduz-nos à
alegria do Verão. Assim, como o
Povo Israel começa o seu calendário neste mês no qual se converteu de um povo
de escravos num povo de profetas, como disse o Midrash: “Viu a serva no Mar
Vermelho o que não viu Ben Buzi em profecia”.
O Shabat anterior a Pessach é denominado na Halachá como Shabat Hagadol- o
Grande Shabat- já que a saída do Egipto aconteceu na noite entre os dias 14 e
15 de Nissan, numa quarta-feira pela noite, que coincide com este ano 5763; o
dia 10 de Nissan em Shabat, o Todopoderoso disse a Moshé:”E tomarão um cabrito
por família...”. Todo o Povo de
Israel fez segundo o que lhe fora ordenado, mesmo quando o cabrito era um dos
deuses do Egipto. Um povo de
escravos, impotentes sob o jugo do
grande império, levantou/se contra o seu opressor apenas pela fé. É por isso que esse Shabat é denominado
o Grande Shabat para nos ensinar o que a fé e a disposição podem fazer.
União, preocupação mútua, direcção, limitações, obrigações... fizeram do
nosso povo “Am Segulá”, um povo capaz de ser a luz dos povos.