“E Itzchak
rogou ao Eterno ...” (Bereshit 25:21)
“...E Itzchak e sua esposa pediram ao
Eterno, pois ela era estéril e o Eterno aceitou as suas preces e Rivká, sua
mulher concebeu”. Neste pequeno
relato da Torá e através das orações de Itzchak e Rivká, podemos aprender
muitos princípios sobre a importância e as regras da reza.
Conceitos como: “Não se compara
a reza do necessitado com aquele que não se encontra necessitado”, “Todo aquele
que pede pelo seu companheiro, Hashem responde primeiro às suas necessidades.”,
“Em todo o lugar onde me implores, chegarei e responder-te-ei”, “Não se compara
a reza de um justo, cuja procedência são os tzadikim, com a petição de um justo
de procedência duvidosa.”
É através do estudo das rezas
dos nossos antepassados que poderemos entender os conceitos da Halakhá. Toda a pessoa deve guiar-se por
intermédio das Tefilot, implorar ao Todopoderoso as suas necessidades e nunca
desesperar-se perante qualquer situação por mais complexa e difícil que
seja. O Rei Hizkiyahu criticou
bastante o profeta Yeshayahu, quando este foi enviado por Hashem para
anunciar-lhe o seu rápido falecimento, ao que o Rei Hizkiyahu, homem temente de
Hashem e grande estudioso da Torá perguntou ao profeta qual o motivo de tal
ditame, ao que o profeta lhe respondeu, por não ter casado e não ter desejado
descendência. O Rei comentou-lhe
que tinha decidido não casar-se para não ter filhos já que lhe tinha sido
anunciado no seu “Ruach Hakodesh” que a sua descendência não seguiria os
caminhos da Torá. A isto o profeta
responde: ”...e nas contas de Hashem quem te manda indagar? Deverias ter cumprido a tua obrigação e
o que Hashem dispõe não é da tua conta:” Depois de reconhecer o equívoco, pediu
para casar-se com a filha do profeta mas este negou-lha , assinalando-lhe que:
“Hashem não é um ser humano para arrepender-se”. O rei pediu-lhe que terminasse a sua mensagem e saísse da
sua presença, pois já tinha reconhecido o seu erro. “Assim nos ensinam os nossos antepassados: ainda que
tenhamos uma espada ao pescoço não devemos desespear-nos pelas desgraças.”
Disseram os nossos Sábios que: a
reza, o arrependimento e a tzedaká têm o poder de abolir todo e qualquer ditame
e assim recitam os tzadikim nas rezas de Rosh Hashaná e Yom Kipur. A Torá comenta-nos a gravidez de Rikvá
e diz-nos: “E pugnam os seus filhos dentro dela”. E ela afirma: “Se é assim, porque é que me acontece isto? E consultou o Eterno”. O Midrash conta-nos que a problemática
de Rivká começou quando ao passar pelo Beit Hamidrash de Torá de Sem e Ebed,
sentia que o feto queria sair e alegrava-se muito mas acontecia que, quando
passava próximo dos templos de idolatria sentia que também desejava sair pelo
que ficou confusa. Como é que um
feto não tinha as suas inclinações definidas? Ela sabia que o Todopoderoso cria as criaturas com
inclinações bem definidas, quem vai ser Tzadik e quem vai ser perverso e a
todos nos deu a Torá como meio para podermos sobrepor-nos às nossas inclinações
naturais, tal como foi dito: “Criei-te com más inclinações (Yetzer Hará) mas
dei-te a Torá como remédio (Torá Tablin)”. Mas Rivká não conseguia entender como podia um mesmo feto
estar atraído ao mesmo tempo pelo bem e pelo mal, pelo correcto e pelo errado,
até que Hashem lhe mostrou que tinha gémeos no seu ventre e isto tranquilizou-a
mais.
Como pôde Rivká tranquilizar-se
sabendo que o seu filho não era um medíocre senão que, engendraria dos filhos,
um deles com tendências idólatras?
Rivká sabia que até o idólatra tem a opção de corrigir o seu caminho e
voltar à Torá mas quem está confuso e não sabe o que quer da vida, nunca poderá
estar consciente da sua situação e portanto não poderá corrigir-se. Encontramo-lo na Hagadá de Pessach, quando
dizemos: “Como é que a Torá falou de quatro filhos: Chacham, Tam, Eno Yodea
Lishol (o Sábio, o Perverso, o Ingénuo e aquele que Não Sabe Perguntar)”. Sabendo que a Torá dá uma grande
importância à ordem das coisas e às afirmações dos nossos Sábios, como é os
nossos Sábios puderam colocar o perverso em segundo lugar, antes do Tam e do
Desconhecedor, estão longe de poder chegar a ter as capacidades do Sábio. Rivká sofria porque pensava que estava
grávida de um menino indeciso, que não sabia diferenciar o bem do mal, a
verdade da mentira e esse é o motivo porque os nossos Sábios contemporâneos
viram nos movimentos judaicos como conservador, reformista, neo-reformista e
quem sabe quantos grupos mais poderíamos encontrar no “lego” do nosso
povo. Trata-se de um perigo muito
maior que o liberalismo, pois este não tenta interpretar erroneamente a Torá
segundo interesses ou necessidades, senão que, simplesmente não lhe interessa e
o dia em que tiver interesse ou necessidade em conhecê-lo, não será
influenciado por falsidades provocadas por interesses ou necessidades, não
porque a Torá não permita a discussão ou o pluralismo de ideias, pelo
contrário, toda a nossa tradição e Torá se baseiam na diversidade de opiniões
mas com uma condição fundamental: as opiniões têm que estar baseadas no
conhecimento e na integridade.
Milhões de comentários, estudos e polémicas têm acompanhado cada letra e
palavra da Torá mas cada uma das imposições, limitações ou costumes rabínicos
que se foram definindo ao longo da história do nosso povo não podem ser
apagadas ou renegadas com a desculpa de que o mundo mudou.”O Shabat guardou
mais o Povo de Israel, que o Povo de Israel guardou o Shabat”.