“Envia homens para que explorem a terra...” (Bamidbar 13:1)
Um dos acontecimentos mais criticados durante os quarenta anos de
permanência no deserto, foi o comportamento dos chefes das tribos na sua visita
à terra de Israel. A Torá define a
condição dos mesmos: “Culam Anashim”, eram todos grandes personalidades, não
faziam parte dos simples do povo senão pelo contrário os “eleitos”. E como podemos entender o seu
comportamento?
Se perguntamos em que erraram, vemos em Rashi uma explicação: A ordem dos
relatos ensina-nos a intenção; quem deseja falar, começa com os defeitos e
termina a descrever as propriedades e, quem deseja criticar começa por louvar e
acaba a criticar, pois a expressão “mas...”demonstra o que desde o princípio
queria recalcar.
Os espias louvaram a condição da Terra de Israel, una terra que emana leite
e mel e este é o seu fruto, com habitantes valentes e cidades de grandes
construções amuralhadas; mas um povo que viu como o Mar Vermelho se abriu, por
seu lado, que viu sucumbir os egípcios no mesmo mar, que esteve presente na
entrega da Torá no Monte Sinai, que viu os relâmpagos e as maravilhas. Como é possível que se tivesse
assustado ao ver cidades amuralhadas e gente de tão alta estatura?
Os nossos Sábios comentam que na verdade não foram os perigos da conquista
que preocupou os chefes das tribos, senão o pensar que entrar na terra de
Israel, os levaria à realidade da vida quotidiana, o preocupar-se pela
manutenção das suas famílias, enquanto que nos quarenta anos de travessia do
deserto, a nuvem Divina arrasava todos os perigos e dificuldades do caminho, o
poço de Miriam acompanhava-os e o maná caía todas as manhãs em redor do
acampamento e cada qual saboreava o gosto que preferia. Então, para quê entrar na terra de
Israel, quando agora se encontravam no paraíso?
Não apenas o material era ideal, senão também ao nível espiritual chegavam
a alcançar os níveis mais elevados.
A este respeito disseram os nossos Sábios: “A escrava viu no Mar
Vermelho o que Ben Buzi (o profeta) não alcançou. Em quarenta anos apenas dez vezes houve manifestações
incorrectas por parte do povo contra Moshé, ao que se analisarmos o que
criticavam, damo-nos conta de que as suas críticas eram muito humanas: água,
comida...e geralmente da maioria que se tinha apegado ao povo de Israel por
interesse. Poderíamos por acaso
comparar-nos com eles?
A resposta da Torá a todo este comportamento é uma só Mitzvá: “Tarimu
Teruma... Chalá...”. As Mitzvot forjam a pessoa ao caminho da Torá e assim
culmina a parashá a respeito de colocarmos Tzitzit nas esquinas do vestuário:
“E será para vós por filatérios e os vereis e recordareis todos os mandamentos
e os fareis e não andareis atrás dos vossos corações e dos vossos olhos, pois
vós errais atrás deles.” Nossos olhos são nossos espias e assim como os espias
da terra fizeram rebelar o povo contra o Todopoderoso, também geralmente nos
fazem os nossos olhos, tal como os espias foram os eleitos do povo também os
olhos são os “eleitos” entre os membros do ser humano, ao ponto de o Talmud
discutir a responsabilidade de um cego e da sua obrigação. Disse Rabi Yosi: Farei uma festa a todo
aquele que diga que o cego está livre do cumprimento dos preceitos, pois se os
olhos não vêem o coração não deseja, se não há tentações, não há possibilidade
de pecar. O erro encontra-se
apenas naquele que tem a possibilidade de escolha , assim disse o Talmud no
tratado de Shabat a respeito dos Mandamentos sobre os quais está escrito na
Torá: “E os Mandamentos estão gravados “Charut” sobre as tábuas”. Devido a que a Torá não tem vogais, o
que permite ler a escrita de diferentes maneiras segundo a tradição, disseram
os nossos Sábios não leias gravadas “Charut”, senão livres “Cherut” pois não há
liberdade senão para aquele que a conhece.
A falta de conhecimento converte a pessoa em escravo da sua
ignorância. Ainda que o pensamento
popular considera o crente como um pobre escravo das suas crenças, a Torá que
está baseada no conhecimento que leva à crença, considera a verdadeira crença
como resultado do seu conhecimento.
Não há pessoa livre senão aquela que se dedica ao estudo.