“Sereis santos...” (Vayikrá 19:1)
Fala a toda a comunidade dos Filhos de Israel e lhes dirás: “Kedoshim tihyu
(sereis diferentes)... Cada
pessoa, à sua mãe e ao seu pai temerá e os meus Sábados guardarão...”. O temor e respeito a seus pais
fazem-nos Kedoshim. Que
maravilha! Os nossos Sábios
perguntaram porque é que a Torá no tema da honra colocou o pai antes da mãe e
no caso do temor mencionou a mãe antes do pai. A isto os nossos Sábios responderam: a norma no mundo é que
a pessoa teme mais ao pai e honra a mãe, mas a Torá inverteu essas obrigações
para que chegássemos ao ideal: tanto na igualdade como no temor e na honra aos
dois.
Em que difere a educação da Torá da que é adquirida na rua? Quando a Torá nos obriga a não
contradizermos o que um pai fala, fazemo-lo por temor e não por medo. Não esqueçamos a diferença que existe
entre ambos os termos: medo é a sensação de insegurança pelo desconhecido e
temor é a sensação de respeito pela importância ou grandeza. Assim, como não devemos ter medo do
Todopoderoso porque Ele seguramente não quer o nosso mal, como também não
devemos ter medo de um pai, senão respeito. É certo que hoje em dia parece ridículo respeitar o próximo,
numa socciedade onde a violência e a força são as que dominam, tratar um pai
como; ” velho, o que é que tu entendes!”
Não é normal. O levantar-se
em sinal de respeito quando a mãe se aproxima parece fazer parte da história.
“Não amaldiçoes o surdo e perante o cego não coloques obstáculo...”. Que princípios tão elevados os da Torá,
pois nos adverte que não façamos, não porque nos pareçam incorrectos ou
injustos senão porque devemos ter temor e respeito ao Todopoderoso.
A proibição de não por obstáculo perante o cego, é um conceito muito mais
amplo do que parece. Disseram os
nossos Sábios: dar um bom conselho ao companheiro sem advertí-lo do interesse
que uma pessoa possa ter, recai dentro da citada proibição, ainda que o
conselho fosse bom para aquele que o recebe, sem relação ao benefício de quem o
dá. O facto de esconder o que não
pode ver, considera-se um obstáculo perante o cego.
“Não deprecies ninguém num juízo, colocando-te a favor de uma das
partes. Não tenhas preferência
pelo necessitado, não honres o maior, com justiça julgarás o teu companheiro”. Da mesma forma, quando a causa é
justificável e por vezes até necessária.
Hamispat le Elokim hu, o juízo pertence ao Todopoderoso. A obrigação de fazer justiça não é um
privilégio de juízes, trata-se de uma obrigação para cada um de nós, dentro das
suas possibilidades. Quem
presenciou um acontecimento, não pode evitar o seu testemunho. Disseram os nossos Sábios: todo o juiz
que ditamina correctamente se converte em sócio do Todopoderoso.
“Não odeis o teu irmão no teu coração; repreender, repreenderás o teu
companheiro e não levarás peado por ele”.
Disseram os nossos Sábios: que grandeza a dos nossos irmãos de Yosef,
pois está escrito:”E não puderam falar com ele em paz”, mesmo quando pecaram e
o odiaram, não foram capazes de odiá-lo às escondidas, senão que o expressaram
na sua crítica. A responsabilidade
pelo próximo é tal que, quem vê uma falta no seu companheiro e não o critica,
ainda quando deva criticá-lo, considera-se essa pessoa cúmplice no seu
erro. O barco com os passageiros
nos seus camarotes converteu-se num exemplo clássico na literatura dos nossos
Mestres. O facto de furar a parede
de um camarote não é apenas da incumbência do passageiro do dito camarote,
senão de todo o barco. Existe uma
causa particular e uma causa geral onde a causa particular é também geral pela
influência que tem nos demais e pela responsabilidade que temos em relação ao
próximo, “Israel Arebim Ze la Ze”, somos garantes uns dos outros.