“E escutou Itró...” (Shemot 18:1)
Assim começa esta parashá que tem o nome do sogro de Moshé. Nenhum dos
nossos patriarcas e mestres teve o mérito de ter uma parashá em seu nome,
contudo, Itró recebe-o por excelência uma vez que se trata da parashá na qual Hashem entrega a
Torá ao Povo de Israel.
A Torá relata-nos que Itró “escutou” soube dar atenção ao que estava a
acontecer e à razão desses mesmos acontecimentos. Durante a nossa vida ouvimos muitos relatos ou muitas
histórias mas poucos sabemos tirar deles conclusões. A Torá mostra-nos: “E Moshé contou a seu sogro tudo o que o
Eterno fez ao faraó e ao Egipto...
E alegrando-se de todo o bem que o Eterno fez a Israel, que o libertou
das mãos dos egípcios”.
E disse Itró:”Bendito o Eterno...
Agora sei quão grande é o Eterno... E Itró, sogro de Moshé tomou holocaustos e
sacrifícios... Bendisse, reconheceu
e realizou”. Itró não se contentou
apenas em bendizer senão também reconheceu o seu erro:”Agora sei que o Eterno é
maior que todas as idolatrias”.
Itró, sacerdote idólatra, reconhecedor e praticante de todo o tipo de
idolatria reconheceu o seu erro e mudou a sua prática: “...e tomou Itró...
holocausto e sacrifícios...”.
Itró teve o mérito de ter o seu nome como título de uma narração de um
momento de expoente máximo na história do povo judeu: a entrega da Torá no
Monte Sinai, um testemunho vivo da Revelação divina ao ser humano! Não foi através da boca de Moshé nem de
nenhum profeta, que o Eterno se revelou, senão directamente aos olhos e ouvidos
de todo o povo, mediante a afirmação: “Eu sou o Eterno, teu D-us que te tirei
da Terra do Egipto...”.
Os preceitos do Eterno são verdadeiros, pois foram impostos pela vontade
Divina e não pela alucinação de um profeta qualquer , nem pela inteligência de
um sábio. O seu valor apoia-se no
desejo do Criador. Esses preceitos não nos foram transmitidos para nos
escravizar mas pelo contrário, para que nos pudéssemos libertar das nossas
paixões. Assim disseram os nossos
sábios do Talmud no que diz respeito ao parágrafo: “E os mandamentos estavam
gravados nas tábuas”. Não se deve ler gravados senão livres, já que no hebraico
ambas as palavras se escrevem com as consoantes H R T , podendo ler-se Harut ou
Herut ,gravadas ou livres, ao que concluíram:”A pessoa livre é aquela que se
dedica ao estudo da Torá”. “O
conhecimento liberta”, isto é, toda a pessoa é livre ao nível do seu
conhecimento, pois a ignorância escraviza ao ponto de levar a pessoa a fazer
tudo aquilo que os outros querem que faça. O saber, a capacidade de discernir, e discutir fizeram da
nossa Torá a sabedoria por excelência.
Aprendi muito com os meus mestres, mais com os meus companheiros e muito
mais com os meus alunos, desta maneira resumiam os nossos sábios os vários níveis
de aprendizagem: os meus mestres ensinaram-me, os meus companheiros
colocaram-me dúvidas e os meus alunos questionaram-me.
Com os Dez Mandamentos, o Todopoderoso compara a existência de um único
D-us com o respeito em relação aos pais e com a obrigação de diferenciar o
Shabat dos restantes dias da semana. Não matarás com o não cobiçarás. Que comparações tremendas! Os primeiros preceitos que o
Todopoderoso nos encomenda, comparam o Seu respeito ao respeito que deveremos
ter em relação aos nossos pais, tal como afirmaram os nossos Sábios: “Que seja
o respeito em relação aos teus mestres como aquele que tens aos teus pais e o
respeito aos teus pais como o respeito ao Criador”. O século XX finalizou com o fim dos valores e do respeito,
invertendo-os. Os professores
respeitando e tremendo perante os seus alunos e os pais rogando aos seus
filhos. A cobiça e inveja
tornaram-se tão naturais e necessárias para a humanidade.
A entrega da Torá no Monte Sinai marcou a viragem nos conceitos humanos,
tais como : o respeito, a ordem, a justiça, a bondade, os direitos e as
obrigações... O Todopoderoso
observou a Torá e criou o Universo.
O mundo foi criado tendo por base a Torá e não como remédio para os
defeitos humanos; a Torá não nos foi dada para corrigir senão para construir. A
Torá não depende do tempo mas o tempo é que depende da Torá. O tempo é relativo uma vez que depende
da velocidade, enquanto que a Torá é absoluta, pois é a vontade daquele que
disse: “Faça-se... e fez-se”.