“Estas são as palavras…” (Devarim 1:1)
Estas são as palavras... Assim começa o livro da Torá, sobre o qual nos
comenta Rashi: devido a que Moshé se dispunha a criticar o Povo de Israel,
enumerando todos os lugares nos quais se revelaram contra o Todopoderoso, pois
quis indirectamente recordando apenas os lugares por respeito ao próprio
povo. Que grandeza demonstrou
Moshé e relação ao povo! Ensinando
assim todo um capítulo de direcção, não apenas como dirigente de um povo senão
para todos os níveis.
Moshé Rabenu esperou quarenta anos para criticar o povo, em momentos de
despedir-se do povo, já que ele sabia que não podia entrar à Terra de Israel,
do que aprenderam os nossos Sábios:
“ Uma pessoa não deve criticar o seu filho senão sobre a sua separação,
de maneira que a crítica não seja bem recebida”. Assim aprendemos com Yaacov, que reuniu os seus filhos para
lhes indicar todas as críticas que tinha para eles, senão sobre o seu
falecimento.
A crítica não deve fazer-se senão a quem a queira e a saiba
aproveitar. Como disseram os
nossos Sábios: “Não se pressiona
senão aquele que queira ser pressionado”.
A Torá obriga-nos com o preceito: “Indicar, indicarás ao teu próximo e não
o levarás ao erro.” A
responsabilidade que temos com o próximo não apenas para indicar, senão que nos
considera cúmplices no caso de não fazê-lo; entretanto, tanto Yaacov com os
seus filhos e Moshé com o povo esperaram próximo do falecimento para
realizá-lo. Assim nos quiseram
ensinar, que ainda que a crítica é uma obrigação e não um direito, deve
realizar-se apenas quando possa alcançar o melhor efeito absolutamente, não
deve realizar-se sem suspeitarmos de que os efeitos possam ser
contraditórios. Disseram os nossos
Sábios, Yaacov não criticou seus filhos por duas razões, senão próximo da sua
morte: para que não critique e tenha que voltar a criticar, para que se apartem
os seus filhos dele, tal como aconteceu ao Rei Salomão que, enquanto viveu o
seu mestre, não se afastou do caminho da Torá. Disse o refrão. Mais vale um amigo próximo, que um irmão
longe.
O valor dos preceitos é considerado pelo esforço necessário para
realizá-los, como foi dito: “Segundo o esforço, o valor”. O preceito da crítica encontra-se entre
os preceitos mais importantes que nos o Todopoderoso nos encomendou, não pelo
esforço necessário uma vez que quase um instinto de crítica ao próximo, senão
pela dificuldade de realizá-lo positivamente para corrigir e não para
danificar.
Disseram os nossos Sábios: “A vida e a morte está no poder da língua”. Quantas críticas têm matado não
fisicamente, ainda que também tenham ocorrido, senão espiritual e
psicologicamente, que não são menos graves que no físico. O que mata o companheiro fá-lo perder
este mundo mas aquele que o desvia do bom caminho fá-lo perder este e o outro
mundo. Pelo que, quanto temos que
nos preocupar, pais, mães, professores, amigos e por vezes até um simples
vizinho, no qual o nosso desejo de corrigir não se converta na razão de
afastá-lo e piorar a situação.
As palavras que saem do coração: assim disse o profeta: “Assim como a cara
se reflecte na água, assim é o coração da pessoa com o seu próximo”. A base da educação tem que estar no
apreço e carinho do educador com respeito ao seu pupilo e saber o valor das palavras,
as que podem construir e por desgraça também podem destruir.
Moshé Rabenu não somente era um grande educador e um grande dirigente senão
foi, sobretudo, um grande homem que soube esperar quarenta anos para indicar,
de maneira indirecta, toda as rebeliões do Povo de Israel no deserto.